Este é um diário de uma beesha alucinada, cheia de aventuras insanas e pensamentos desconexos, à base de remédio controlado e de porradas que a vida dá na cara!

Sunday, September 16, 2007

A.S. e o roacutan

A.S. foi a pessoa que mais me incentivou a usar o roacutan.
Temos a mesma idade, estudamos juntos na faculdade e as espinhas sempre foram temas freqüentes em nossas conversas. Porque A.S., desde que entrara na puberdade, apresentava um quadro acentuado de espinhas. Não eram daquelas enormes que costumavam aparecer em meu rosto, mas as de A.S. apareciam em grandes quantidades e isso já estava contribuindo para estragar a simetria de seu rosto.

A.S., na verdade, era uma pessoa que sofria muito com a ação a acne. Ela, apesar de muito crítica consigo mesma e muito perfeccionista, sabia de suas capacidades, bem como reconhecia que a suavidade e simetria de seus traços faziam dela uma mulher bonita. O que estragava eram as espinhas, que lhe davam um ar de adolescente e, como toda e qualquer pessoa com acne, uma idéia falsa de pessoa descuidada da aparência.

Discutíamos muito sobre isso: as pessoas, de maneira geral, acham que espinhas, mesmo sendo uma 'manifestação natural' de todo e qualquer organismo, são reflexo da falta de cuidado. E essa idéia de falta de cuidado vai desde a noção de má higiene pessoal até uma má conduta alimentar. É claro que tais fatores propiciam o surgimento de espinhas, mas não são decisivos. Porque o aparecimento oou não de espinhas varia a cada organismo.

Nós vivíamos trocando figurinhas sobre esfoliantes, ácidos, produtos de higiene da pele livres de óleos que obstruem poros, e por aí vai. Também trocávamos dicas que nossas dermatologistas nos passavam.

E compartilhávamos o mesmo medo e fascínio pelo roacutan. Até então, só conhecíamos o caso da E.N., nossa colega de faculdade, que estava se dando bem. Mas ainda estávamos muito presos às histórias que nos chegavam aos ouvidos: o remédio ainda está em fase de testes no Brasil, não se aplica ao nosso clima, faz mais mal do que bem e - nosso maior pânico - suspeitava-se que adolescentes norte-americanas tenham cometido suicídio porque sua depressão foi acentuada pelo uso do roacutan.

A.S. se mostrou mais corajosa do que eu... quando uma de nossas conhecidas da faculdade começou a fazer uso do roacutan e não apresentou problemas, A.S. conversou com os pais e com o dermatologista e eles optaram, em conjunto, pelo tratamento. Nessa época, estávamos terminando a faculdade e A.S. resolveu começar o tratamento no mesmo dia em que defendeu sua monografia. Nossa formatura foi 3 meses depois da defesa e, já na formatura, a pele de A.S. estava incrível! Dá até um pouco de inveja lembrar disso, quando nos vejo nas fotos: eu, com a cara cheia de corretivo e A.S. com a pele reluzente!

É claro que nada vem com facilidade nessa vida. Os pais de A.S. se apertaram para pagar esse tratamento. Na época, cada caixa com 30 comprimidos de 20mg de roacutan custava cerca de R$ 130,00. Na época de E.N. era R$150,00 (valor de um salário-mínimo de então). A.S., no auge do tratamento, gastava 2 caixas de 20mg por mês. Além disso, ainda tinha o deslocamento do interior do estado para o Rio de Janeiro: não se encontrava roacutan pra vender nas farmácias de lá, somente aqui na capital! Some isso às consultas médicas e os exames de sangue periódicos (bem como pomadas e colírios para os diversos ressecamentos), acredito que os pais de A.S. gastavam em média uns R$400 por mês com esse tratamento.

Quanto aos efeitos colaterais durante o tratamento, não foram nada agradáveis para A.S., especialmente no final do tratamento. A.S. fez um tratamento básico de 6 meses ininterruptos, 40mg diários. No começo, sentia muitas náuseas, perdia a fomo com freqüência, além do rubor e da descamação - fora o desespero estético, porque todas as espinhas resolveram brotar logo de uma vez!

Lá pro meado do segundo mês, veio o ressecamento das mucosas. Começou com os lábios rachados, passou para o nariz ressecado e, por fim, atingiu os olhos. A partir daí, o colírio, o soro fisiológico e a pomada para a boca viraram seus melhores amigos. A mucosa nasal de A.S. ressecou de tal forma que eram freqüentes os sangramentos. Em época de frio, um simples espirro podia resultar em vários minutos com a cabeça levantada para estancar o sangramento do nariz...

Além disso, mesmo com a utilização do colírio, seus olhos ressecavam tanto que A.S. apresentava várias crises de dor de cabeça.

Por fim, como o remédio atinge muito o fígado, A.S. sentia certo desconforto abdominal. Dores no fígado mesmo, que sempre foi seu 'ponto fraco'.

Reencontrei A.S. em 2005, quando ela veio morar no Rio, 4 anos após o tratamento. Além do roacutan, ela estava fazendo algumas sessões de peeling químico e a laser. Além da pele de pêssego, que nunca mais voltara a apresentar nenhuma espinha ou cravo - e sem necessidade de doses de manutenção - os cabelos dela estavam também melhores e ela tinha melhorado da caspa.

A mudança positiva na aparência impulsionou A.S. para frente! Mesmo já sendo consciente de sua beleza inegável, A.S. se tornou muito mais segura de si. Arranjou um namorado, com quem está há quase 2 anos e se sente feliz.

E me confidenciou, da última vez que nos vimos, que enfrentaria novamente toda a angústia do tratamento caso precisasse... porque, pra ela, valeu muito a pena.

Foi em nosso reencontro em 2005 que decidi de vez encarar o roacutan. Comecei, inicialmente, a preparar meu bolso e, em seguida, minha cabeça pra poder lidar com os efeitos positivos e negativos do remédio. E foi A.S. quem me indicou meu atual dermatologista que, de cara, aceitou meu pedido de tratar logo com o roacutan. Mas isso é outra história!

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