Este é um diário de uma beesha alucinada, cheia de aventuras insanas e pensamentos desconexos, à base de remédio controlado e de porradas que a vida dá na cara!

Thursday, March 29, 2007

Perspectivas

Tanto tempo sem postar... tantas coisas enchendo minha cabeça...

Hoje eu acordei meio pra baixo...

Fiquei sabendo que um colega de infância, filho de uma amiga da minha mãe, teve que retirar um dos mamilos. Ele fazia parte daquele 1% da população masculina que apresenta a suspeito/confirmação de câncer de mama. No caso dele, na verdade, era um problema nos gânglios próximos ao mamilo. Após uma biópsia, o médico achou um material suspeito e todos concordaram que, em termos de saúde do paciente, seria melhor fazer a extração total do tecido. É o que eles chamam de cirurgia radical, uma mastectomia unilateral.

E o L. está lá, em sua casa, de repouso. Uma mama a menos. Mas, se ele está encarando as coisas da maneira como eu tento encarar o meu problema, é uma mama a menos, porém anos de vida a mais.

Todos os dias, peço a Deus pra ter serenidade, força e tranquilidade pra seguir a minha vida adiante, sem me revoltar com a minha situação.

Há cerca de 2 meses, tive uma inflamação no testículo direito. Após duas semanas de tratamento brabo com antibióticos, anti-inflamatórios e repouso, a infecção passou. Mas um nódulo se formou no meu testículo. Desde essa descoberta, passei por uma batelada de exames. Meu braço chega a parecer uma peneira, ou um braço de drogado, de tantos furos que me fizeram pra coletar sangue. Da última vez, já em pré-operatório, me coletaram sete daqueles tubinhos de sangue.

Aparentemente, pelo resultado dos exames, não é câncer. Já respirei aliviado por essa notícia. Porém, como o nódulo é grande, mesmo que seja algo mais 'leve' que um tumor benigno - por exemplo abcesso ou cisto - eu vou ter que remover o testículo. É aqui que termina meu calvário de exames e começa meu martírio.

Afinal, eu admito que, por mais que eu tente, não está sendo fácil de aceitar a perspectiva de passar o resto da minha vida com um testículo a menos.

Às vezes, acho que me sinto com aquelas mulheres que, por causa do câncer, têm que retirar uma mama. Porque, se não me engano, não há cultura no mundo todo que não valorize o seios. eles estão ligados ao prazer, à estética, ao ideal de feminilidade, de maternidade. Na construção da identidade feminina, os seios são elementos importantes, justamente por carregarem esse simbolismo do fornecimento do alimento ao bebê, do fornecimento do prazer, da beleza etc. Ter que retirar uma das mamas, ou ambas, pode suscitar na mulher um cero sentimento de inferioridade, de se sentir "menos mulher". Ou seja, pode atingi-la naquilo que a identifica, naquilo que a define.

E eu não quero ter que passar por isso de novo. Já gastei muito tempo da minha vida tentando me entender como gay, desvinculando isso da idéia de me sentir "menos homem".

Hoje em dia, que me aceito bem, que entendo minha orientação sexual apenas como diferente, que sei que não é por ser gay ou não que uma pessoa é mais ou menos homem, tenho que lidar com essa perspectiva de que, dentro de alguns dias eu terei que retirar um testículo!

Por mais que essa possibilidade tenha sido levantada como a mais provável, desde o princípio do meu tratamento, eu não consigo me sentir confortável. É difícil lidar com a sensação de impotência por não poder resolver isso da maneira como eu gostaria. É difícil lidar com a sensação de injustiça, como se não bastassem os problemas que eu já enfrento na minha vida (junto com a carga de problemas que os amigos me despejam). É difícil lidar com a sensação de perda, pois é um órgão meu que será extirpado. É difícil lidar com a sensação de trsteza, descontentamento, dor e confusão, com a idéia recorrente de que, com um testículo a menos, eu sou "menos homem".

Eu sei que é meio ridículo ficar me sentindo assim... e que eu devia agradecer por não ser nada pior... mas eu já ando me sentindo incompleto e mutilado desde já.

Tem dias em que eu acordo e não sei como encontro forças pra sair da cama.

Passo horas tentando encher a minha cabeça de pensamentos desconexos, para não ter que ficar pensando sobre isso.

O que me dói é pensar que eu nem tenho 30 anos!! Ou seja, parece que nem cheguei à metade da minha vida, mas que carrego fardos de 6 vidas inteiras! É problema de pele, de obesidade, de alergias, de auto-estima, de carreira, de dinheiro...

Uma luz no fim do túnel, por favor?
É pedir muito?