Este é um diário de uma beesha alucinada, cheia de aventuras insanas e pensamentos desconexos, à base de remédio controlado e de porradas que a vida dá na cara!

Sunday, September 30, 2007

O começo

Depois de muita pesquisa de preço e revisões orçamentárias, finalmente me preparei pra me tratar com o roacutan. Iniciei o tratamento, efetivamente, em 16/09/2006. Eu tinha, na verdade, escolhido o dia 07/09/06 como data pra iniciar a tomar o roacutan. Uma data simbólica, dia da independência do Brasil... dia em que eu fazia um ano que, depois de uma porrada muito forte da vida e da punhalada de pessoas que eu considerava 'amigas', eu tinha chegado ao fundo do poço e, ainda assim, um homem se interessou por mim - a ponto de me namorar - do jeito que eu era da maneria que eu me encontrava: gorgo, tristonho e insatisfeito... e seria o dia que marcaria o início da minha virada!

Mas as coisas na minha vida nunca ocorrem como eu planejo...

Após pegar os dados do dermatologista indicado com A.S., comecei uma espécie de maratona pra marcar a primeira consulta. eu já estava quase desitindo por, depois de 3 dias consecutivos, não conseguia ser atendido ao telefone. Por fim, descobri que havia anotado um número errado.

Depois disso, fui atendido e uma das atendentes da clínica, ao constatar que eu era cliente novo, só marcou a minha consulta para dentro de dois meses. Foram dois meses bem tensos, pois eu estava criando minhas expectativas com relação ao tratamento.

Enfim, chegada a data da consulta, fui atendido pelo médico e expus o meu caso: um homem próximo dos 30 anos que ainda apresentava acne. E, em certos momento, acne severa. Um homem que, desde o início da adolescência, fez milhares de tratamentos tópicos pra combater as espinhas e que estava cansado de perder. Um homem que, depois de anos de frustração em sua luta por uma aparência melhor e mais aceitável, estava cheio de esperanças por causa do sucesso de amigos com o uso de uma única droga: ROACUTAN!

O doutor foi bastante compreensivo. Diferente dos outros dermatologistas que conheci, que sempre me convenciam não usar o remédio e a ficar anos me enchendo de pomadas e cremes e ácidos, sem muitos resultados, este médico conversou claramente comigo sobre como o trataento funcionava, como o remédio agia no organismo, o que acontecia, quais eram os possíveis efeitos colaterais, entre outros assuntos relativos ao tratamento. Só me frustrou porque achei que já ia sair de lá com a receita em mãos, pronto pra comprar quantas caixas ele prescrevesse! Mas, antes, eu teria que fazer uma puta bateria de exames: fezes, urina e sangue, bem completo, com direito a análise de função hepática, HIV, curva glicêmica e o escambau!

Acho que só tirei tanto sangue na vida quando podia ser doador! Mas os dias de espara valream a pena: peguei os resultados dos exames e rumei pro consultório médico. Após uma avaliação detalhada dos exames e de uma pesagem básica, saí do consultório com uma receita de duas caixas de roacutan de 20mg cada e com um sorriso no rosto. Enfim, começaria minha redenção!

E fui eu, feliz, pra farmácia, comprar as caixas.
Eu lembro até hoje o contentamento que senti quando saí da farmácia com as duas caixas enormes do remédio. Na verdade, me surpreendi com o tamanho delas, algo em terno de 15cmx8cmx4cm. Mas eu tava felizão, andava com as caixas como se carregasse duas conquistas junto ao peito!

Lembro também a minha surpresa com o formato do comprimidinho.
Achei grande, porém engolível. E achei legal ele ter um formato ovalado, bem como duas cores. Me lembrava uma miniatura de uma das minhas paixões gastronômicas: um ovo de páscoa preto e branco. Aqui embaixo tem uma foto do comprimido...


No primeiro dia, quase não notei nenhum tipo de alteração.
No segundo dia, já comecei a sentir uma espécie de secura na boca, com se estivesse sempre com sede. E esse sintoma persistiu o resto da semana.

A primeira semana foi tranqüila. Eu só senti um pouco de enjôo e um pouco de insônia. Mas logo meu organismo se acostumou e eliminou esses efeitos colaterais desagradáveis. A única constante era a secura da boca e a sensação de sede.

Até aí, tudo corria dentro do esperado, pois meus amigos já haviam me avisado que o ressecamento das mucosas era um sintoma normal - e isso está escrito na bula.

Mas, como eu disse, isso era só o começo!

Sunday, September 16, 2007

A.S. e o roacutan

A.S. foi a pessoa que mais me incentivou a usar o roacutan.
Temos a mesma idade, estudamos juntos na faculdade e as espinhas sempre foram temas freqüentes em nossas conversas. Porque A.S., desde que entrara na puberdade, apresentava um quadro acentuado de espinhas. Não eram daquelas enormes que costumavam aparecer em meu rosto, mas as de A.S. apareciam em grandes quantidades e isso já estava contribuindo para estragar a simetria de seu rosto.

A.S., na verdade, era uma pessoa que sofria muito com a ação a acne. Ela, apesar de muito crítica consigo mesma e muito perfeccionista, sabia de suas capacidades, bem como reconhecia que a suavidade e simetria de seus traços faziam dela uma mulher bonita. O que estragava eram as espinhas, que lhe davam um ar de adolescente e, como toda e qualquer pessoa com acne, uma idéia falsa de pessoa descuidada da aparência.

Discutíamos muito sobre isso: as pessoas, de maneira geral, acham que espinhas, mesmo sendo uma 'manifestação natural' de todo e qualquer organismo, são reflexo da falta de cuidado. E essa idéia de falta de cuidado vai desde a noção de má higiene pessoal até uma má conduta alimentar. É claro que tais fatores propiciam o surgimento de espinhas, mas não são decisivos. Porque o aparecimento oou não de espinhas varia a cada organismo.

Nós vivíamos trocando figurinhas sobre esfoliantes, ácidos, produtos de higiene da pele livres de óleos que obstruem poros, e por aí vai. Também trocávamos dicas que nossas dermatologistas nos passavam.

E compartilhávamos o mesmo medo e fascínio pelo roacutan. Até então, só conhecíamos o caso da E.N., nossa colega de faculdade, que estava se dando bem. Mas ainda estávamos muito presos às histórias que nos chegavam aos ouvidos: o remédio ainda está em fase de testes no Brasil, não se aplica ao nosso clima, faz mais mal do que bem e - nosso maior pânico - suspeitava-se que adolescentes norte-americanas tenham cometido suicídio porque sua depressão foi acentuada pelo uso do roacutan.

A.S. se mostrou mais corajosa do que eu... quando uma de nossas conhecidas da faculdade começou a fazer uso do roacutan e não apresentou problemas, A.S. conversou com os pais e com o dermatologista e eles optaram, em conjunto, pelo tratamento. Nessa época, estávamos terminando a faculdade e A.S. resolveu começar o tratamento no mesmo dia em que defendeu sua monografia. Nossa formatura foi 3 meses depois da defesa e, já na formatura, a pele de A.S. estava incrível! Dá até um pouco de inveja lembrar disso, quando nos vejo nas fotos: eu, com a cara cheia de corretivo e A.S. com a pele reluzente!

É claro que nada vem com facilidade nessa vida. Os pais de A.S. se apertaram para pagar esse tratamento. Na época, cada caixa com 30 comprimidos de 20mg de roacutan custava cerca de R$ 130,00. Na época de E.N. era R$150,00 (valor de um salário-mínimo de então). A.S., no auge do tratamento, gastava 2 caixas de 20mg por mês. Além disso, ainda tinha o deslocamento do interior do estado para o Rio de Janeiro: não se encontrava roacutan pra vender nas farmácias de lá, somente aqui na capital! Some isso às consultas médicas e os exames de sangue periódicos (bem como pomadas e colírios para os diversos ressecamentos), acredito que os pais de A.S. gastavam em média uns R$400 por mês com esse tratamento.

Quanto aos efeitos colaterais durante o tratamento, não foram nada agradáveis para A.S., especialmente no final do tratamento. A.S. fez um tratamento básico de 6 meses ininterruptos, 40mg diários. No começo, sentia muitas náuseas, perdia a fomo com freqüência, além do rubor e da descamação - fora o desespero estético, porque todas as espinhas resolveram brotar logo de uma vez!

Lá pro meado do segundo mês, veio o ressecamento das mucosas. Começou com os lábios rachados, passou para o nariz ressecado e, por fim, atingiu os olhos. A partir daí, o colírio, o soro fisiológico e a pomada para a boca viraram seus melhores amigos. A mucosa nasal de A.S. ressecou de tal forma que eram freqüentes os sangramentos. Em época de frio, um simples espirro podia resultar em vários minutos com a cabeça levantada para estancar o sangramento do nariz...

Além disso, mesmo com a utilização do colírio, seus olhos ressecavam tanto que A.S. apresentava várias crises de dor de cabeça.

Por fim, como o remédio atinge muito o fígado, A.S. sentia certo desconforto abdominal. Dores no fígado mesmo, que sempre foi seu 'ponto fraco'.

Reencontrei A.S. em 2005, quando ela veio morar no Rio, 4 anos após o tratamento. Além do roacutan, ela estava fazendo algumas sessões de peeling químico e a laser. Além da pele de pêssego, que nunca mais voltara a apresentar nenhuma espinha ou cravo - e sem necessidade de doses de manutenção - os cabelos dela estavam também melhores e ela tinha melhorado da caspa.

A mudança positiva na aparência impulsionou A.S. para frente! Mesmo já sendo consciente de sua beleza inegável, A.S. se tornou muito mais segura de si. Arranjou um namorado, com quem está há quase 2 anos e se sente feliz.

E me confidenciou, da última vez que nos vimos, que enfrentaria novamente toda a angústia do tratamento caso precisasse... porque, pra ela, valeu muito a pena.

Foi em nosso reencontro em 2005 que decidi de vez encarar o roacutan. Comecei, inicialmente, a preparar meu bolso e, em seguida, minha cabeça pra poder lidar com os efeitos positivos e negativos do remédio. E foi A.S. quem me indicou meu atual dermatologista que, de cara, aceitou meu pedido de tratar logo com o roacutan. Mas isso é outra história!

Saturday, September 08, 2007

R.M. e o Roacutan

Da última vez que falei do uso do roacutan, falei do caso da E.N. e como sua auto-estima melhorou em muito quando a pele melhorou (e o cabelo idem).

Hoje, lembro também de um caso muito próximo. Um dos meus amigos, R.M., usou roacutan há cerca de 3 anos. E as mudanças que ele experimentou foram muito interessantes.

R.M. sempre foi muito reservado e tímido. Mesmo numa família de pessaos bastante 'falantes', todos são muito reservados em sua vida pessoal e até mesmo, de certa forma, avessos a demonstrações de afeto freqüentes ou consideradas 'despropositadas'.

Além disso, R.M. sofre desde criança com um problema de nascença, de caráter majoritariamente estético. Nada grave ou que comprometa sua integridade física. Mas que lhe resultou em tratamentos dolorosos e uma grande cicatriz que lhe exigiria mais dor, mais tratamentos estéticos e mais dinheiro.

Meu amigo, por conta desse probleminha, sofreu muito com a crueldade das outras crianças na época de escola, o que contribuiu para torná-lo ainda mais fechado e circunspecto.

Depois disso, veio a adolescência e, é claro, surgiram as espinhas gigantes e os cravos, pra contribuir de vez na destruição da auto-estima do pobre rapaz. Seu consolo era a grande aceitação no círculo social da igreja que freqüentava. Lá, R.M. encontrara pessoas que eram sua amigas, apesar de sua cicatriz e de suas espinhas, apesar d esua aparência auto-definida como 'grotesca'. Acredito que a decisão de R.M. de se dedicar ao sacerdócio tenha se dado em função de todos esses fatores: uma infância como pária, a rejeição romântica/sexual em sua adolescência, seus problemas de auto-estima e timidez que o impedia de buscar relacionamento, aliada a uma fuga de sua tendência pouco evidente a homossexualidade.

Depois de algum tempo, R.M. percebeu que sua entrega ao sacerdócio era apenas uma fuga e, à sua maneira, decidiu lutar por seu espaço e para ser aceito, especialmente por si mesmo.

Assumiu para si mesmo sua atração por homens e passou a notar que, apesar das espinhas e da cicatriz, possuía outras características positivas. E concentrou seus esforços em fortalecê-las. Nos conhecemos nessa época, num chat de internet, através de um amigo em comum. Logo me identifiquei com ele, 'a pair of misfits', como disse, certa vez, a katerine hepburn de cate blanchett em 'o aviador'. R.M. me impressionou por sua inteligência, sagacidade, clareza de pensamento e maturidade, apesar deste último quesito ser realmente comprometido por sua pouca experiência em termos de relacionamentos amorosos. Também me chamou a atenção a cicatriz e o estrago que a acne fazia em sua pele. Mas, sinceramente, não era nada que eu não fosse capaz de deixar de lado, caso levássemos adiante a tensão sexual que nos dominava.

O caso é que R.M. ainda se deixava incomodar por tais questões de aparência. se a cicatriz demandaria um esforço doloroso, as espinhas era mais fáceis de resolver. E foi assi que, depois de mais de um ano tratando sua acne com creminhos, pomadas e alguns ácidos, R.M. se entregou ao roacutan.

O primeiro mês foi uma espécie de ajuste. Começou com uma dose diária de 10mg. e foi aumentando progressivamente. No segundo mês, subiu para 20mg diários (dois comprimidos de 10mg). No terceiro mês, 30mg (três drágeas de 10mg). Do quarto ao sexto mês, dois comprimidos ao dia, de 20mg cada, totalizando uma ingestão diária de 40mg.

À medida que as doses eram aumentadas, os efeitos colaterais se evidenciavam. R.M., inicialmente, apresentava rubor. Assim que o rubor sumiu, começou a apresentar ressecamento de mucosas e descamação de pele. Na época dos 40mg diários, não havia mais secreção nasal e ele tinha que utilizar soro fisiológico no nariz com freqüência, para evitar sangramentos. Os lábios racharam de tal maneira que ele teve que abandonar a manteiga de cacau e avançar em pomadas como Bepantol e Nebacetin. Mas a melhora em sua pele já se tornara visível: já não havia mais aqueles comedões enormes e a quantidade de cravos havia diminuído.

Após isso, fez-se uma pausa de 3 meses, para avaliação, acompanhamento da evolução do tratamento etc. Daí, foram mais 6 meses do mesmo martírio descrito acima.

Depois de um ano, por questões de manutenção, R.M. voltou a usar o roacutan, por 6 meses, mas apenas a 10mg diários.

E, hoje, a melhora na pele de R.M. é notável. Ainda há algumas manchas e marcas dos anos de espinhas no rosto, mas nada que o tempo e umas boas sessões de peeling não dêem jeito.

O mais interessante é notar também a mudança de atitude de R.M. com a melhora em sua aparência. Ao perceber a mudança, um rosto mais limpo, as costas sem espinhas, o peito livre de comedões, ele começou a se achar menos repulsivo. Sua auto-estima foi trabalhada de tal forma que, atualmente, R.M. tem consciência de que, além de ser um cara interessante e cheio de predicados (sagacidade, alegria) também é bonito. Tornou-se mais aberto, mais expansivo. É claro que ele ainda fica ressabiado e não leva muita fé que algum cara do time dos 'bonitões' esteja mesmo dando mole pra ele quando saímos, mas ele reconhece que o roacutan foi um fator decisivo na sua mudança de pensamento, sobre sua aparência e sobre o seu modo de encarar a vida.

Esse exemplo de R.M., um exemplo tão próximo da minha realidade e no meu convívio, foi um dos grandes incentivos que recebi quando decidi usar pro roacutan.

Sunday, September 02, 2007

Mágoa de cabocla

São 6h10 da manhã de domingo.
E meio que acabei de chegar em casa.
Estava numa festa muito maneira e descolada, cheia de antenadinhos, alternativos, gente cool e vários outros tipos. Gay ou não.

Não consigo dormir.
Não que eu fique pilhado demais quando chego da noitada,a ponto de encontrar (mais) dificuldades pra dormir.
Mas é que eu estou com uma sensação muito incômoda.
Na verdade, muitas pequenas sensações incômodas dentro de mim, que culminam num bololô de pensamentos e não me deixam dormir.


Tem uma banda chamada "3 Doors Down", cujas músicas andam me assombrando.
Uma diz assim:

You’re getting closer
To pushing me off of life’s little edge
Cause I’m a loser
And sooner or later you know I’ll be dead
You’re getting closer
You’re holding the rope and I’m taking the fall
Cause I’m a loser, I'm a loser!

Em alguns momentos, eu tenho me sentido assim, um loser total.
Não que eu pense em suicído, porque essa fase da minha vida já passou faz tempo.
Mas eu ando me sentindo meio cansado.

Cansado de me sentir rejeitado, de olhar pros casais (mesmo os casais de uma balada) e pensar "por que não eu?" e me sentir sempre um rejeitado, um excluído, um alguém que não pertence a este mundo.

Porra, eu sou um cara inteligente.
Eu sou legal. Eu falo bem, eu sou divertido, danço bonitinho.
Mas eu sou gordo!
E, infelizmente, seja na noitada, seja na vida, a maioria esmagadora das pessoas quer mesmo um abdômen sarado...

Sabem (vírgula-pessoas-que-não-lêem-esse-blog-porque-eu-não-divulgo), eu tô cansado.
Tô francamente enjoado de ouvir os meus amigos me dizerem que eu sou "uma das pessoas mais interessantes" (sic) que eles conhecem, ou que eu sou "o cara mais legal/divertido/engraçado do mundo inteiro" (sic), ou ainda que eu sou "um rapaz inteligente e perspicaz" (sic)... ou, pior, que não entendem "por que uma pessoa como eu não arranja ninguém".
Isso me cansa, gente.
E sei que não sou o cara mais foda do universo, mas sei que eu sou foda pacas! Eu conheço o meu valor e sei que não sou de se jogar fora! Mas eu tô cansado de só eu saber isso. Ou só amigos reconhecerem isso.

Meus amigos não vão me beijar numa noitada.
Meus amigos não vão me levar pra foder no motel.
Meus amigos não vão querer ver filme agarradinho comigo.
Meus amigos não vão construir nenhuma espécie de relação romântica comigo!

Parece que minha 'metralhadora tá cheia de mágoa'.
E está mesmo! Cansei de competir com os homens ideais.
De que me adianta ser tão legal, se ninguém tá me comendo?
Ou, quando come, some!

Hoje, então, meu desconforto foi pior...
Eu estava na festa e encontrei um conhecido.
Um rapaz que conheci através de amigos.
Lembro do quanto fiquei encantado com ele, quando o conheci. Afinal, ele era medianamente bonito, alto, tinha um estilinho de beleza que eu gosto. E era inteligente. Tinha bom papo, era divertido. Pra mim, era um partidão!
E toda santa vez em que eu estava junto dele, eu sempre ficava com essa sensação estranha de que ele meio que se sentia atraído.
Inclusive, teve uma certa festa em que ele não tirava os olhos de mim.
Era muito estranho conversar com um cara teoricamente heterossexual que te olha fixamente, que te dá sinais de que, a qualquer momento, ele vai chegar mais perto e te agarrar...

Depois de alguns meses e alguns programas junto com amigos, surgiu o tal do orkut (sintam como isso tme tempo) e ele era um dos seis amigos que eu tinha no orkut, há mais de 3 anos! E eu descobri que lá tinha uma ferramenta de paquera. Funciona assim: você coloca o perfil de alguém na sua lista de paqueras, mas a pessoa não fica sabendo. Ela só ficará sabendo se ela também te colocar na lista de paqueras dela: daí, o orkut faz a linha alcoviteira e manda uma mensagem para ambos, informando que um está na lista do outro e vice-versa.

E foi o que fiz... qual não foi minha surpresa ao receber um email do orkut, me avisando que eu estava na lista do carinha legal! Eu fiquei tão desconcertado que não sabia o que fazer. Entrei em contato com ele, disse que tinha recebido um email do orkut e perguntei se aquilo era sério. Ele simplesmente me pediu desculpas, disse que tinha feito aquilo porque ficou curioso em saber quais amigos e amigas dele tinham incluído ele na lista de paquera. Ainda bem que essa conversa foi toda por email, por que eu fiquei tãããããão envergonhado que não saberia o que dizer se estivéssemos cara a cara. Somente respondi que não tinha levado a mal a 'brincadeira' dele, mas que ele tomasse mais cuidado com os resultados da curiosidade dele, pois alguma pessoa menos madura ou menos cuca-fresca poderia se sentir magoada ou ofendida. Eu não contei pra ele, mas eu me senti muito frustrado com isso.

Depois disso, nesses 3 anos, eu nunca soube de nada dele que o entregasse.
Eu já estava convencido de que ele era heterossexual, que o lance era só pegar mulher mesmo (até porque, ele pegou mais da metade das mulheres do nosso grupo de amigos)...

... e, hoje, chego nessa festa mega alternativa, encontro com ele.
E ele me apresenta O NAMORADO. um homem. um namoradO, do sexo masculino!
Se por um lado eu devia ficar feliz por conta da eficácia do meu radar, eu forcei um sorriso, convivi com eles na festa, mas me sentia mal, sabem?

Ele me apresentou para o namorado: "esse é o ricky, o cara mais legal da face da terra"! E se debulhou em elogios sobre mim, sobre o quanto eu era inteligente, generoso, divertidíssimo, com uma cabeça über madura, centrado... e eu só conseguia pensar: "caralhos cravejados de diamantes, se eu sou tão legal, por que é que você nunca ficou comigo??", com uma mágoa de cabocla me comprimindo o peito.
Isso dói, tá!

O pior é que o namoradinho não é, assim, muito diferente de mim...
Pelo que pude notar, o cara é legal, simpatico, inteligente, tão cheio de predicados quanto eu. Em termos de aparência, traços físicos em geral, também somos semelhantes.
Só que ele me pareceu quase nada acima do peso... e eu estou gordo!
É isso?

Isso me transportou para um outro passado mais distante.
Quando eu me apaixonei pela primeira vez por um homem.
Eu só fui admitir que era apaixonado por ele uns bons 2 ou 3 anos depois que a paixão acabou. Mas sempre encarei isso como uma situação mal-resolvida em minha vida.

A gente se conheceu na faculdade.
Eu era graduando, ele estava tentando entrar pro mestrado.
Era um cara bonito, vejo hoje em dia que ele se encaixa em muitos fatores do tipinho de homem que eu gosto.

Naquela época, eu tinha tido apenas um namorado, nunca mais me envolvera com homens.
Mas ele me encantou. Era um cara viajado, era do Rio de Janeiro, era 3 anos mais velho. E era inteligente. Tinha bom papo, era divertido. Pra mim, era um partidão!

O engraçado é que estabelecemos uma dinâmica de amizade que mais parecia a de um casal. Primeiro, fazíamos muitas coisas juntos, desde cinema até noitadas. Ele nunca ficava com ninguém porque era noivo. E eu, porque não era bonito, porque era gordo...

Depois, com o estreitamento e a intimidade, a gente já discutia. Já se cobrava posturas e atitudes. Mas a parte 'romântica' da coisa nunca aconteceu. Até porque, por mais que eu estivesse envolvido por ele, eu não me SENTIA envolvido por ele. Nunca passara pela minha cabeça a hipótese de ter algo mais efetivo com ele. Nem mesmo quando a noiva terminou a relação com ele e ele foi correndo lá em casa me contar, super-triste, porém muito adulto e solene ao declarar que "foi melhor assim, a distância era grande"...

Quando ele acabou o mestrado, eu também tinha acabado a faculdade.
E, assim como ele, vim pro Rio.
O engraçado é que, aqui, no habitat dele, a gente nunca conseguia se encontrar.
Qualquer coisas que marcávamos era quase um parto pra acontecer.
Só aí é que fui me dar conta da falta que eu sentia.
No ano seguinte, fui entender que não era falta, tinha sido minha primeira paixão...
Paixão frustrada, diga-se de passagem.

Acabou que ele foi fazer um doutorado na Dinamarca e diminuímos bastante o contato.
Eram apenas conversas amenas no msn, relembrando histórias da época em que estávamos na mesma instituição, assuntando sobre pessoas, nos inteirando dos passos que cada um estava tomando no momento.

Eis que no carnaval do ano passado, eu estava feliz e sorridente dentro da Le Boy, me divertindo muito com as outras micheles que estavam presentes, e com vários outros amigos. Tava me sentindo poderoso, charmoso. Mesmo gordo, tava aproveitando o oba-oba do carnaval e já tinha beijado uns 6 caras na boate. Resolvi rumar com alguns amigos para a pista 2 da Le Boy...

Quando chegamos no lounge de entrada da boate pra seguir pra pista dois, quem eu vejo entrar? Sim, senhoras e senhores (des)leitores desse diário, era ele mesmo, o carinha da faculdade, minha primeira paixão!

Meu coração, que já estava acelerado, disparou num batimento absurdo quando ele me viu, abriu um sorriso cheio de felicidade e meio que correu pra me abraçar.

Quando ele me abraçou, eu sentia que o mundo podia se acabar, que eu nem estava me importando. Eu poderia ter morrido ali, que só aquele abraço, cheio de carinho, de saudade, de desejo mal-contido, seria o suficiente pra me permitir morrer feliz...

Conversamos bastante, mal desgrudados.
Mas a magia se quebrou no momento em que ele teve que sair pra se encontrar com um amigo que estava esperando por ele. Lógico que minha intuição aguçada já gritou que esse 'amigo' era pra ser entendido, no mínimo, como um 'pretê' (ou 'trepê').
Ou seja, fui trocado, deixado de lado, descartado como opção.
E, sim, o tal 'amigo', pelo que observei de rabo de olho (como se eu fosse uma heloísa maluca e possessiva) era uma dessas bichas lindas e estilosas, dessas que já nasceram ricas e fortes e com cara de ser nobre da família real...
Passei o resto da noite me sentindo um lixo radioativo

Estão percebendo?
Eu ilustrei aqui dois casos semelhantes.
Mas existem vários.
É praticamente um padrão que se repete na minha vida!
Ou eu deliro mais do que eu imaginava, ou eu francamente estou amaldiçoado com algum tipo de vodu que me joga num eterno deja vu de situações desconcertantes como estas!
E, como eu disse, eu estou cansado disso tudo...
Cansado de ser trocado, renegado, de perder, de me sentir um perdedor, um mal-amado, um indesejável.

Pra mim, só existe uma resposta: engostosamento!
Se não se pode vencê-los, junte-se a eles...
Cansei de ser legal, de ter valores, de ter princípios.

Eu vou fazer o meu caminho, de cama em cama, com quem me quiser.