Este é um diário de uma beesha alucinada, cheia de aventuras insanas e pensamentos desconexos, à base de remédio controlado e de porradas que a vida dá na cara!

Saturday, October 27, 2007

Leitura obrigatória - parte 03

Quando a gente lê a bula do roacutan, se assusta com a magnitude do tratamento, mas sobretudo toma um susto com a amplitude dos efeitos colaterais. Tais efeitos são, em sua maioria, físicos (como descamação, ressecamentos etc.) ou fisiológicos (prisão de ventre, por exemplo). Mas o mais interessante é que roacutan pode te causar uma série de efeitos colaterais de ordem psíquica/psicológica/emocional/comportamental.

Esse era meu fgrande medo, pois há 10 anos eu ouvira falar em estudos nos estados unidos correlacionando o suicídio de jovens norte-americanas com o uso do roacutan. E ao ler a bula, lá estava que o roacutan pode causar "mais raramente, (...)
distúrbios psíquicos ou do SNC (p. ex. distúrbios de comportamento, depressão e convulsões)".

É claro que, lendo isso, me caguei de mêda! Eu me imaginava tomando roacutan e, de repente, no meio do dia, trabalhando pencas no computador, tendo uma convulsão maluca! Depois, como me dei conta de que tais problemas eram RAROS, resolvi me arriscar.

Já no fim do primeiro mês, ela começou a se manifestar:

5) Insônia:
Não que eu fosse um profundo dormidor.
Sempre tive sono agitado, raramente durmia mais de 8h por noite.
Mas, com o roacutan, a média de horas dormidas no dia foi caindo progressivamente, a ponto de eu não passar de 5h30 de sono por dia.
Dormia mal, acordava moído, passava boa parte do dia cansado e sonolento, mas sem conseguir dormir!
Nem maracujina tava resolvendo!

6) Distúrbios de comportamento:
Eu não reparei nada até o dia que minha grande amiga Fofurinha veio ao Rio. ela veio a trabalho e tirou dois dias pra me acompanhar no Festival de Cinema do Rio. Assistimos 5 filmes juntos, nos divertimos muito e ela teve que ir embora. Saímos da última sessão de cinema e, assim que ela entrou no táxi rumo à rodoviária, eu fui invadido por uma tristeza tão grande e tão fulminante que comecei a chorar ali, em pé, parado no meio da calçada, cercado de transeuntes. Tá, não foi um suuuuuuuper-choro porque, nessa altura do campeonato, meus olhos andavam meio ressecados, mas chorei M-E-S-M-O! E, dois minutos de choro depois, entrei no banheiro do cinema, lavei e sequei a cara e saí de lá como se nada tivesse acontecido. Mesmo! Não era fingindo que nada aconteceu, mas com a sensação leve de que não aconteceu nada demais.

Depois disso, comecei a reparar e tentar controlar minhas alterações de humor. Segurei muito esporros desnecessários que vinham na ponta da língua, para serem proferidos aos meus (naquele momento, nada) queridos roommates! Mas muita coisa escapava do meu controle.

Teve um dia que dormi mal pacas, mas acordei me sentindo magnificamente bem. Como num filme da Disney, levantei lindamente de minha cama, dei bom dia a todos, incluindo os malditos pombos que ficam arrulhando de manhã na minha janela. Dancei pela casa enquanto me arrumava para ir pro serviço. Senti uma leve pontada de fome matinal e resolvi tomar meu sagrado leitinho. Pus o leite numa caneca linda, decorada, colorida e, quando fui ver, TINHA ACABADO O ACHOCOLATADO! Meu mundo desmoronou pesadamente naquele momento! Tudo ficou feio e cinza e um mau humor absurdo tomou conta de mim. Em menos de 1 minuto, que eu tinha tratado meus roomates com a maior delicadeza e feliciade, eu tinha voltade pra sala, com uma fúria insana nos olhos, reclamando do quanto eles eram inúteis, por terem acabado com a porra do achocolatado e nem tinham tido a boa-vontade e o respeito de ir à merda do supermercado e comprado uma bosta de uma lata de achocolatado. Me arrumei bufando e saí batendo a porta. No elevador, toda a riava se dissipou em segundos, quando vi o bebê fofo-lindo-gordinho-risonho da vizinha do 402!

Eu passava dias e dias assim, alternando muito de humor.
E quando descobri isso, além desse temperamento bipolar, eu ficava tenso, tentando me controlar.

Mas teve um momento que foi o mais lamentável de todos...

Sunday, October 14, 2007

Leitura obrigatória - parte 02

Os sintomas de ressecamento foram só o começo.
Depois deles, três outros efeitos colaterias paralelos começaram a aparecer:

2) Espinhas:
É meio incongruente você começar um tratamento bizarro contra a acne e apresentar por quase dois meses de uso uma acne severa! Eu vejo as fotos do meu aniversário e agradeço a existência do photoshop, que apagou todas as minhas espinhas, porque eu tava a própria representação do chokito branco!
Parece que todas as espinhas do meu corpo resolveram estourar nesse período.
E eu, que nunca tive espinhas nas costas, fiquei com elas parecendo um ralador de queijo, de tanta espinha e cravo pipocando por lá!
Meu peito parecia o de um doente de catapora!
E o rostinho?
Teve uma espinhona que cresceu beeeeeeeeeeeem na ponta do nariz?
Did somebody say BRUXA MEMÉIA?

3) Descamação:
Lá pela segunda semana, já com a boca toda arrebentada e nariz começando a sangrar, minha pele começou a descamar sozinha.
Eu utilizava um ácido, a pomada Azelan, como coadjuvante no tratamento, mas parei porque a pele estava descamando com tamanha violência que a pomada, mesmo em levíssimas quantidades, era demais.
Mesmo descontinuando o uso do Azelan, minha pele continuava a descamar em profusão.
A princípio, era uma descamação bem leve, porém profusa, como se eu tivesse caspa em todo o rosto - e, sim, a minha caspa no couro cabeludo aumentou bastante!
Eu vivia com pedacinhos ou poerinha de pele nas roupas!
Uma coisa lamentável!
Depois, entre o primeiro e o terceiro mês de utilização do roacutan, eu descamava como se tivesse ido à praia e me exposto excessivamente ao sol. De tirar nacos de pele da cara!
Uma coisa triplamente lamentável

4) Rubor/vermelhidão:
Isso era realmente patético.
Do nada, em alguns momentos - em especial logo após a ingestão do roacutan - o meu rosto ficava vermelho, como se eu estivesse morrendo de vergonha de algo.
Eu me via no espelho e logo me comparava a um pimentão!
E eu ficava vermelho em momentos muito bizarros, a ponto das pessoas me perguntarem assustadas se estava tudo bem.
Às vezes, o rubor era tçao intenso que eu me sentia quente!
O mais escroto foi um cara com quem eu tinha um rolo nessa época, o Professor Suburbano, me perguntando porque eu continuava vermelho muito tempo depois de transarmos como coelhos no cio...

É claro que, somando isso tudo e jogando num saco, minha auto-estima estava lá embaixo. Imaginem: eu estava lotado de espinhas, com a cara vermelha e descamando, com as roupas cheias de 'caspa', sangrando pelo nariz e todo ressecado!

Eu já estava começando a achar que o remédio não iria fazer efeito, que eu ia fazer parte das estatísticas entrando no 0.08% que não encontram eficácia no tratamento! Era pra isso que eu tava arriscando meu fígado?

Mas o pior dos efeitos colaterais ainda estava por vir...

Sunday, October 07, 2007

Leitura obrigatória - parte 01

Eu admito que sou uma pessoa peculiar. Admito, inclusive, que tenho minhas pequenas manias. E uma delas é ler bulas. Todo e qualquer medicamento que eu uso, por mais que tenha todo um esquema de utilização prescrito pelo médico, eu leio a bula de cabo a rabo, normalmente de 2 a 3 vezes.

Com o roacutan não foi diferente. Só que foi um processo longo... porque a bula do roacutan é praticamente do tamanho de uma folha A4, escrita em frente e verso, com aquela letrinha pequenininha de bula.

E, à medida que os efeitos colaterais se manifestavam, a bula se tornava leitura recorrente. Porque, como eu disse, nada na minha vida ocorre tão facilmente. Eu estava ciente de vários dos efeitos colaterais mais usuais durante o tratamento, já tinha sido alertado também pelos amigos e estava seguindo, inclusive, algumas de suas recomendações. E isso estava me ajudando muito, suavizava o caminho... mas este, ainda assim, era penoso!

Vamos aos sintomas, por partes:

1) Ressecamento:
Começou logo no segundo dia.
Sentia a boca seca a todo momento, minha produção de saliva parecia mesmo ter diminuído. Logo, meus lábios começaram a rachar. Virei o melhor amigo da manteiga de cacau e, quando o ressecamento ficou mais severo, amicíssimo da pomada bepantol - aquela mesma que se usa em assaduras de bebês ou em tatuagens recém-feitas!

Em seguida, foi o nariz.
Era engraçado porque eu não tinha catarro de nenhuma forma.
Mas tinha sempre um monte de melequinhas endurecidas.
O chato disso tudo foram os sangramentos nasais - embora poucos, foram doloridos e de 'difícil contenção'...
E o soro fisiológico imperava no meu nariz!

Por fim, o ressecamento atingiu meus olhos.
Eu não tinha quase lágrimas.
Cheguei, inclusive, a chorar sem verter uma lágrima decente!
Fui obrigado a comprar colírios, para lubrificar os olhos.

Mas tudo tem um lado positivo:
A boca tá seca?
BEBO MAIS ÁGUA, que mata a sede e hidrata o organismo!
O nariz tá seco?
FOI-SE EMBORA A RINITE ALÉRGICA, da qual tenho fugido por quase 3 décadas.
Os olhos estão secos?
E QUEM DISSE QUE EU PRECISO CHORAR MAIS?